Avaliação de ácidos orgânicos na urina

Ácidos orgânicos são uma classe de metabólitos (substâncias produzidas pelo nosso corpo). O teste de ácidos orgânicos oferece uma visão do metabolismo de um indivíduo e dos microorganismos que vivem em seu corpo.

Metabolismo é a soma de reações químicas em seres vivos pelas quais o corpo constrói novas moléculas e quebra as moléculas para eliminar resíduos e produzir energia. Os ácidos orgânicos são compostos orgânicos (contendo carbono) que são ácidos.

Por exemplo, quando uma pessoa possui uma quantidade muito alta de microorganismos patogênicos no intestino, há uma maior produção de toxinas e substâncias inflamatórias. Tais substâncias podem causar sintomas gastrointestinais. Também podem ser absorvidas e contribuir para alterações de comportamento, hiperatividade, distúrbios de movimento, fadiga e piora da imunidade. Estas substâncias produzidas por microorganismos são posteriormente eliminadas na urina, podendo ser dosadas nos testes de ácidos orgânicos.

Os nomes da maioria dos ácidos orgânicos contêm o sufixo –ic, seguido pela palavra “ácido”, como ácido lático. Todo ácido orgânico tem uma ou mais bases conjugadas nomeadas com o sufixo –ate. Assim, a base conjugada do ácido láctico é o lactato. Os grupos químicos mais comuns associados aos ácidos orgânicos são os ácidos carboxílicos que estão presentes na forma de base conjugada em pH neutro (7,0 é o pH dentro da maioria das células).

Quando são detectadas anomalias na eliminação de ácidos orgânicos, tratamentos corretivos são propostos. Existem doenças genéticas que diminuem a produção de certas enzimas gerando acidificação do pH sanguíneo e geram acúmulo de compostos tóxicos, desregulando o funcionamento mitocondrial e prejudicando o crescimento e desenvolvimento.

Também existem fatores não genéticos que alteram o metabolismo humano. Quantidades tóxicas da droga paracetamol e outros produtos químicos tóxicos podem consumir uma molécula-chave, a glutationa, que ajuda o corpo a se desintoxicar, levando à superprodução do ácido piroglutâmico. Os tumores da glândula adrenal chamados feocromacitomas podem causar a superprodução do neurotransmissor epinefrina, resultando em aumentos marcantes em seu metabólito, o ácido vanilmandélico (VMA).

Vários ácidos orgânicos indicam direta ou indiretamente deficiências de vitaminas essenciais, como vitamina B12, ácido pantotênico, biotina e outros. Um dos usos mais importantes do teste de ácidos orgânicos é como indicador de disbiose, um crescimento anormal de leveduras e bactérias no trato intestinal. Alguns desses subprodutos bacterianos do intestino entram na corrente sanguínea e podem alterar o metabolismo de neurotransmissores como a dopamina. Nestes casos, o tratamento inclui modulação intestinal, suplementação de vitaminas, minerais e modificação da dieta.

Utilidade da avaliação de ácidos orgânicos no autismo

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que carece de biomarcadores biológicos claros. Os métodos diagnósticos concentram-se em características comportamentais e de desempenho, o que nem sempre é óbvio ou fácil de avaliar. Estudos recentes vêm proposto o uso de análises genéticas e metabolômicas na tentativa de identificar potenciais biomarcadores para diagnóstico, exploração das causas do TEA e maior individualização do tratamento, relativamente à parte biológica (Chen et al., 2019).

Dois estudos mostraram aumento da excreção de ácidos carboxílicos, o que está relacionado à atividade bacteriana excessiva no intestino, chamada supercrescimento bacteriano, em indivíduos no transtorno do espectro autista (Gątarek et al., 2020; Khan et al., 2022).

O teste de Ácidos Orgânicos (OAT) é uma ferramenta útil para avaliar se há supercrescimento microbiano (leveduras e bactérias), agravando desconfortos gastrointestinais e modificando o comportamento (como no caso da produção de toxinas pela bactéria Clostridium). O teste é capaz de revelar desequilíbrios em vias metabólicas, desequilíbrios nutricionais, disfunção mitocondrial, desequilíbrio do ciclo da ureia, estresse oxidativo, bem como má absorção no intestino e disbiose.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/