Como o tipo de parto afeta a microbiota do bebê?

O aparelho digestivo é habitado por uma coleção diversificada e densamente povoada de microorganismos. Essa comunidade complexa de seres vivos compõe nossa microbiota intestinal. A mesma, quando adequada, proporciona muitos benefícios fisiológicos ao hospedeiro, incluindo:

  • melhoria da imunidade;

  • bom funcionamento gastrointestinal;

  • manutenção do peso saudável;

  • regulação do metabolismo de açúcares e gorduras;

  • redução da inflamação;

  • proteção contra microorganismos invasores prejudiciais;

  • redução do risco de doenças autoimunes e neurodegenerativas.

Alguns trabalhos mostram que a microbiota começa a ser formada ainda dentro da barriga da mãe. Além disso, durante o parto esta colonização inicial do intestino infantil é ampliada.

No parto natural há o contato do bebê com microorganismos da região vaginal. No parto cesareano, o contato do bebê com a pele da mãe e com as bactérias do hospital é maior. Se a mãe tem uma microbiota vaginal saudável a criança herda uma flora mais equilibrada e saudável, o que a protege contra doenças como asma, artrite, doença inflamatória intestinal e deficiências imunológicas.

Já a cesárea está relacionada a um maior risco de desenvolvimento de disbiose intestinal ainda no início da vida. Mas mesmo quem nasceu de parto cesária pode desenvolver uma microbiota saudável com alimentação saudável e rica em fibras durante a infância (Mitchell et al., 2020).

É possível entender a microbiota com exames de metabolômica e metagenômica. Metabolômica é uma análise abrangente de metabólitos em uma amostra biológica. A metabolômica pode fornecer um instantâneo mais preciso do estado fisiológico real da célula. Através da metabolômica microbiana é possível analisar os metabólitos produzidos por microorganismos presentes em nosso intestino.

Modulação intestinal da criança nascida prematura ou de parto cesariano

A modulação intestinal é um conjunto de estratégias clínicas e nutricionais que visam a restauração da permeabilidade intestinal e da composição dos microorganismos. Ensino tudo em meu curso online.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Obesidade e risco de transtornos de humor

A obesidade continua a ser um dos principais problemas de saúde pública devido à sua elevada prevalência e comorbilidades. Não trata-se de gordofobia. As comorbidades comuns em pessoas com alto percentual de gordura corporal incluem alterações cardiometabólicas (esteatose, diabetes, hipertensão etc), maior risco de câncer, problemas articulares e ósseos, distúrbios do humor e cognitivos.

Estudos mostram que indivíduos obesos apresentam mais frequentemente déficits de memória, aprendizado e funções executivas em comparação com pessoas de peso e percentual de gordura adequados. Estudos epidemiológicos também indicam que a obesidade está associada a um maior risco de desenvolver depressão e ansiedade, e vice-versa. Essas associações entre patologias que presumivelmente têm etiologias diferentes sugerem mecanismos patológicos compartilhados.

A microbiota intestinal é um fator mediador entre as pressões ambientais (por exemplo, dieta, estilo de vida) e a fisiologia do hospedeiro, e sua alteração pode explicar em parte a ligação cruzada entre essas doenças. Padrões alimentares ocidentalizados são conhecidos por serem uma das principais causas da epidemia de obesidade, que também promove um desvio disbiótico na microbiota intestinal. A disbiose, por sua vez, contribui para várias das complicações relacionadas à obesidade.

Os microorganismos que habitam o trato intestinal dos mamíferos (coletivamente denominados microbiota) incluem bactérias, vírus, protozoários, archaea e fungos, com as bactérias representando a maioria destes minúsculos seres.

Em termos de diversidade, estima-se que a microbiota intestinal humana adulta inclua mais de 1.000 espécies bacterianas diferentes com mais de 7.000 cepas. Os micróbios intestinais desempenham um papel na fisiologia humana através de vários mecanismos, incluindo sua contribuição para o metabolismo de nutrientes e drogas. Alguns desses efeitos são mediados por produtos do metabolismo bacteriano, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), incluindo propionato, butirato ou acetato, que influenciam a barreira intestinal, o tônus ​​inflamatório e o controle homeostático metabólico em diferentes tecidos.

Alterações na microbiota intestinal (denominadas disbiose) estão associadas não apenas a doenças que afetam o intestino, como a doença inflamatória intestinal (DII), mas também a órgãos e sistemas extraintestinais. A disbiose também é fator de risco para diabetes, artrite autoimune e distúrbios psiquiátricos. Em condições fisiológicas, ao contrário, a microbiota intestinal coexiste em simbiose mutualística com o hospedeiro, contribuindo para o controle homeostático do corpo, por meio da regulação de vias e funções imunes, endócrinas e neurais.

Eubiose x disbiose - impacto no peso e no sistema nerovoso (Agustí et al., 2018)

Causas da obesidade

A obesidade é uma condição multifatorial que depende tanto de fatores intrínsecos individuais (genética) quanto de variáveis ​​ambientais. Dentre elas, destaca-se:

  • Baixo gasto energético ou sedentarismo.

  • Alto consumo de açúcar ou carboidratos simples.

  • Alto consumo de gordura saturada e/ou trans.

  • Baixo consumo de fibras.

  • Alterações na microbiota intestinal.

  • Situações emocionais e compulsão alimentar.

  • Carência de nutrientes.

Padrões alimentares ocidentais (ricos em açúcares simples e gordura saturada) reduzem a diversidade microbiana, promovem a inflamação e contribuem para a síndrome do intestino permeável. A maior permeabilidade facilita a translocação de componentes de bactérias Gram-negativas para a corrente sanguíneo, gerando inflamação e alterações metabólicas, neuroinflamação e alterações no SNC.

O uso de estratégias dietéticas (por exemplo, probióticos, dietas mais saudáveis ​​ricas em fibras, prebióticos, etc.) pode ter um impacto benéfico na obesidade e nas complicações mentais, por meio da restauração de uma microbiota saudável e seu papel regulador no eixo intestino-cérebro.

Intestino saudável ajuda a regular peso, melhora a memória e reduz o risco de ansiedade e depressão (Agustí et al., 2018)

As associações estabelecidas entre obesidade e transtornos mentais (comprometimento cognitivo e alterações de humor e comportamento social) em estudos epidemiológicos e experimentais apontam para fatores contribuintes e mecanismos fisiopatológicos compartilhados. Essas associações podem estar relacionadas a alterações induzidas pela dieta na microbiota intestinal que, por sua vez, podem contribuir para (neuro) inflamação e desregulação do sistema neuroendócrino associado à obesidade comórbida com deficiências mentais.

Os transplantes fecais forneceram evidências mais diretas para o papel da microbiota disbiótica nas alterações neurocomportamentais, uma vez que a colonização de camundongos magros com a microbiota de camundongos obesos gera complicações neurológicas nos primeiros.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Microbiota não saudável gera cérebro pouco saudável

Algumas pesquisas neurológicas e psiquiátricas recentes investigaram o desequilíbrio da população microbiana intestinal (disbiose) no cérebro. Um microbioma intestinal mais diverso é geralmente considerado mais saudável (na ausência de espécies bacterianas patogênicas elevadas) e tem sido associado a uma melhor capacidade de aprendizagem/memória e flexibilidade comportamental. Por outro lado, a baixa diversidade microbiana está ligada ao comprometimento das habilidades cognitivas.

A diversidade e composição da microbiota intestinal é crucial por muitas razões diferentes. As bactérias intestinais são reguladoras de processos básicos, como a digestão ao longo do trato gastrointestinal, mediando a extração, síntese e absorção de nutrientes e metabólitos. Além disso, produzem bacteriocinas (antibióticos), promovendo uma primeira resposta imune contra bactérias patogênicas.

A diversidade e a composição das bactérias intestinais também determinam a abundância de metabólitos derivados da microbiota, neurotransmissores e ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato e acetato), que são os principais produtos finais da fermentação microbiana no intestino.

A concentração de butirato, por exemplo, está relacionada com a produção de mucina. As mucinas são glicoproteínas que fornecem muco com propriedades funcionais, protegendo as mucosas. São também potenciais moléculas de adesão para microganismos.

O butirato também exerce efeitos anti-inflamatórios e aumenta os níveis de proteína da junção estreita (tight junctions), promovendo a manutenção da barreira intestinal e reduzindo a permeabilidade da mucosa intestinal.

O desequilíbrio nos processos acima mencionados está associado ao comprometimento da integridade e funcionalidade intestinal, resultando em permeabilidade intestinal alterada e inflamação intestinal, estabelecendo um ambiente intestinal aberrante. Este perfil gera um meio de moléculas de sinalização que, em última análise, podem se comunicar com o cérebro através da comunicação neural (nervo vago), sinalização endócrina (incluindo o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal) e o sistema imunológico (citocinas), modulando a função cerebral, o comportamento e, mais notavelmente, a cognição.

Alguns fatores ambientais demonstraram modular positivamente esses sistemas e sua comunicação bidirecional, como atividade física moderada, dieta cetogênica de característica mediterrânea (antiinflamatória) e suplementação de ômega-3.

Por outro lado, a disbiose intestinal inclui uma baixa diversidade da microbiota com um desequilíbrio na composição da comunidade bacteriana, promovendo o estabelecimento de bactérias patogênicas. Este ambiente diminui a produção de ácidos graxos de cadeia curta e neurotransmissores e aumenta a quantidade de lipopolissacarídeos bacterianos (LPS).

A produção da camada de mucina é afetada, assim como a barreira intestinal, levando a um comprometimento da integridade e funcionalidade do intestino. Esse desequilíbrio resulta em permeabilidade intestinal alterada e inflamação intestinal com aumento de LPS e citocinas na corrente sanguínea.

A disbiose intestinal tem sido associada a uma ampla gama de doenças neurodegenerativas e distúrbios cognitivos. A disbiose é agravada pelo estresse, dietas ocidentais ricas em gorduras trans e saturada e açúcares (glicose, maltose, xarope de glicose, xarope de frutose, maltodextrina etc) atividade física excessiva.

Dados pré-clínicos e clínicos associaram a disbiose intestinal a uma variedade de doenças neurodegenerativas, incluindo doença de Alzheimer, doença de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica, doença de Huntington. Modular a função intestinal é fundamental.

TÉCNICAS PARA ESTIMULAR O NERVO VAGO

1) SOM

- Encontre um local calmo

- Coloque sua música ou mantra favorito (KALYANI, et al, 2011).

- Feche os olhos

- Cante junto

2) YOGA

A respiração lenta, a entoação de mantras como o OM, as posturas (ásanas) e as técnicas de concentração ajudam a ativar o nervo vago (STREETER et al. 2010).

3) MODULAÇÃO INTESTINAL

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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