Comunicação em nutrição: o que funciona?

Sou nutricionista e sempre me perguntava "se quero que meus clientes comam mais fruta, devo dizer:

  • Se comer fruta terá esse e aquele benefício... (forma positiva)
  • Se não comer fruta terá maior chance de sofrer dessa e daquela doença (forma negativa)"

De fato, algumas pessoas valorizam mais as mensagens positivas, enquanto outras ficam com medo das consequências negativas. Isso vale para qualquer comportamento na área de saúde. Por exemplo, algumas pessoas se mobilizam quando veem pessoas bonitas e em boa forma correndo na praia. Outras só quando veem uma foto horrorosa de uma pessoa morrendo com alguma doença que poderia ter sido prevenida.

E aquelas pessoas que não adotam comportamentos saudáveis nem com mensagens positivas nem com as negativas? Neste caso precisamos estudar as teorias de mudanças de comportamento para melhor influenciar nossos clientes e a sociedade. Mensagens baseadas em teorias parecem surtir mais resultados positivos.

A repetição também é fundamental. Por isso, as campanhas de saúde devem ser constantes. Use camisinha (preservativo). Não dá para falar isso só uma vez. Temos que falar sempre pois quando as campanhas diminuem a incidência de doenças sexualmente transmissíveis aumenta.

Pesquisas mostram que algumas pessoas demoram até 7 anos para adotar um novo comportamento de saúde. Mostram também que inserir algo novo (fruta, verdura, atividade física, água, preservativo) é 12% mais fácil do que retirar algo prejudicial (refrigerante, comida ultraprocessada, álcool...). Por isso, devemos focar mais no que pode ser feito doque no que não deve ser feito.

A efetividade das mensagens de saúde depende ainda da receptividade do público alvo e de sua capacidade de compreensão. Depende também da qualidade da mensagem, de sua repetição, dos canais de disseminação e dos ambiente de comunicação. É possível que uma audiência possa ser mais receptiva a algumas mensagens do que outras.

Por isso, o profissional de saúde precisa ter muita informação sobre o público alvo. Deve-se definir uma mensagem central e depois fazer alterações sistemáticas para melhor alcançar um determinado segmento de audiência, mantendo-se sempre a mesma mensagem central. As mensagens devem ser pré-testadas quanto à facilidade de compreensão, aceitabilidade e reações iniciais.

Para maior efetividade, além da informação veiculada pela mídia, o contato da população com profissionais de saúde qualificados é fundamental.  Estes profissionais reforçam as mensagens, esclarecem dúvidas, motivam para a mudança.  O sistema de apoio social de um indivíduo (família, amigos, comunidade) também contribui para a adoção de hábitos mais saudáveis. 

A área de comunicação em saúde enfrenta muitos desafios como iniquidades de conhecimentos sobre saúde, falhas de comunicação por meio da mídia de massa e falta de profissionais treinados. É importante que os cursos forneçam disciplinas que discutam a importância da comunicação como ferramenta clínica útil e como técnica para modificação de comportamentos que promovam a saúde da população.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/