Neurônios inibitórios e excitatórios

Os neurônios inibitórios e excitatórios são os principais tipos funcionais de células neuronais no cérebro, responsáveis por equilibrar a atividade neural. Eles desempenham papéis complementares no sistema nervoso, regulando a sinalização elétrica e química entre as células nervosas.

1. Neurônios Excitatórios

Esses neurônios aumentam a probabilidade de que outros neurônios gerem um potencial de ação, transmitindo o sinal elétrico adiante.

Características

  • Neurotransmissor Principal: Glutamato.

  • Efeito: Depolarizam a membrana pós-sináptica, tornando-a mais positiva e facilitando a geração de potenciais de ação.

  • Função:

    • Facilitar a comunicação entre diferentes áreas do cérebro.

    • Impulsionar processos como memória, aprendizado e sensações.

    • Estimular respostas motoras e comportamentais.

  • Distribuição: Constituem cerca de 80% dos neurônios do córtex cerebral.

Exemplo

  • Células piramidais:

    • Encontradas no córtex cerebral.

    • São os principais neurônios excitatórios responsáveis pela transmissão de sinais entre áreas do cérebro.

2. Neurônios Inibitórios

Esses neurônios reduzem a probabilidade de que outros neurônios gerem um potencial de ação, atenuando ou bloqueando a transmissão do sinal.

Características

  • Neurotransmissor Principal: GABA (ácido gama-aminobutírico).

  • Efeito: Hiperpolarizam a membrana pós-sináptica, tornando-a mais negativa e dificultando a ativação do neurônio.

  • Função:

    • Controlar a excitabilidade neural para evitar sobrecarga do sistema.

    • Prevenir hiperatividade neural, como convulsões.

    • Modular ritmos cerebrais, como os envolvidos no sono e na atenção.

  • Distribuição: Representam cerca de 20% dos neurônios do córtex cerebral.

Exemplo

  • Células de Purkinje:

    • Encontradas no cerebelo.

    • Importantes para coordenação motora e regulação do equilíbrio.

  • Interneurônios GABAérgicos:

    • Presentes em várias áreas do cérebro, regulam circuitos locais.

3. Equilíbrio Excitatório-Inibitório

O equilíbrio entre neurônios excitatórios e inibitórios é essencial para o funcionamento normal do cérebro. Um desequilíbrio pode levar a diversas condições neurológicas e psiquiátricas:

  • Excitação excessiva:

    • Pode causar epilepsia, transtornos de ansiedade e hiperatividade.

  • Inibição excessiva:

    • Relacionada à depressão, esquizofrenia e transtornos do desenvolvimento, como o autismo.

4. Integração nos Circuitos Neurais

Os neurônios excitatórios e inibitórios não funcionam isoladamente; eles trabalham juntos em circuitos complexos:

  • Feedforward Inhibition: Quando um neurônio excitatório ativa um inibitório, que então regula a atividade de outro excitatório.

  • Feedback Inhibition: O neurônio excitatório ativa um inibitório, que por sua vez inibe o próprio excitatório original, criando um ciclo de controle.

4. Neurotransmissores com diferentes ações

Alguns neurotransmissores têm a capacidade de desempenhar tanto funções inibitórias quanto excitatórias, dependendo do tipo de receptor ao qual se ligam. Essa versatilidade é crucial para a flexibilidade funcional do sistema nervoso. Abaixo estão os principais exemplos:

1. Acetilcolina (ACh)

  • Função Excitatória: Quando se liga a receptores nicotínicos (canal iônico), geralmente em sinapses musculares e em algumas regiões do sistema nervoso central.

    • Exemplo: Estímulo da contração muscular no sistema nervoso somático.

  • Função Inibitória: Quando se liga a receptores muscarínicos (metabotrópicos), como no coração, reduzindo a frequência cardíaca.

    • Exemplo: Ação do nervo vago no controle do ritmo cardíaco.

2. Dopamina (DA)

  • Função Excitatória: Em receptores do tipo D1-like (como D1 e D5), que estimulam vias de sinalização que aumentam a excitabilidade neural.

    • Exemplo: Facilitando a motivação e recompensa em circuitos dopaminérgicos.

  • Função Inibitória: Em receptores do tipo D2-like (como D2, D3 e D4), que ativam vias inibitórias intracelulares, diminuindo a excitabilidade.

    • Exemplo: Regulação de movimentos no sistema extrapiramidal.

3. Serotonina (5-HT)

  • Função Excitatória: Quando se liga a receptores 5-HT2 (metabotrópicos), promove ativação de vias intracelulares excitatórias.

    • Exemplo: Influência na regulação do humor e aumento da atividade cortical.

  • Função Inibitória: Quando se liga a receptores 5-HT1 (metabotrópicos) ou 5-HT3 (ionotrópicos), que podem reduzir a excitabilidade neural.

    • Exemplo: Modulação do sono e inibição da dor em certas áreas do sistema nervoso.

4. Noradrenalina (NA)

  • Função Excitatória: Em receptores β-adrenérgicos (metabotrópicos), que estimulam mecanismos de ativação celular.

    • Exemplo: Aumento da frequência cardíaca e da atenção durante a resposta de luta ou fuga.

  • Função Inibitória: Em receptores α2-adrenérgicos (metabotrópicos), que têm efeito inibitório sobre a liberação de neurotransmissores e reduzem a excitabilidade.

    • Exemplo: Controle do tônus simpático e diminuição da pressão arterial.

5. GABA (Ácido Gama-Aminobutírico)

Embora seja geralmente considerado inibitório, GABA pode ter efeitos excitatórios em determinadas condições, especialmente durante o desenvolvimento.

  • Função Excitatória: Em situações em que o gradiente de cloro está invertido (como em neurônios imaturos), a ativação dos receptores GABA-A pode resultar em um fluxo de cloro para fora da célula, despolarizando a membrana.

    • Exemplo: Desenvolvimento do sistema nervoso em bebês.

  • Função Inibitória: Na maioria dos casos, GABA atua através de receptores GABA-A e GABA-B para hiperpolarizar a célula.

    • Exemplo: Controle da ansiedade e regulação do sono.

6. Glutamato

Embora seja predominantemente excitatório, em certas condições pode ter efeitos inibitórios.

  • Função Excitatória: Ativação de receptores como AMPA e NMDA, promovendo despolarização e potenciação sináptica.

    • Exemplo: Papel no aprendizado e na memória.

  • Função Inibitória: Em alguns circuitos e tipos de receptores metabotrópicos (mGluRs), o glutamato pode reduzir a excitabilidade neuronal.

    • Exemplo: Modulação da liberação de outros neurotransmissores.

7. ATP e Adenosina

  • Função Excitatória: ATP pode atuar em receptores P2X (ionotrópicos), promovendo a excitação celular.

    • Exemplo: Sinalização sensorial, incluindo dor.

  • Função Inibitória: Adenosina, um metabólito do ATP, atua principalmente em receptores A1 para inibir a atividade neural.

    • Exemplo: Papel na indução do sono.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/