Genética e detox de metais pesados

O processo de desintoxicação de metais pesados no corpo humano é complexo e envolve várias enzimas e proteínas que atuam nas duas fases de desintoxicação: Fase 1 (Fase de modificação) e Fase 2 (Fase de conjugação). Esses processos ajudam a transformar e eliminar substâncias tóxicas, como metais pesados (mercúrio, chumbo, arsênico, cádmio), que podem ser prejudiciais à saúde.

Principais genes envolvidos na desintoxicação de metais pesados

Fase 1 - Fase de Modificação (Metabolismo de Substâncias)

Enzimas do fígado, como as citocromo P450 (CYPs), alteram os metais pesados e outras toxinas, tornando-os mais reativos e mais fáceis de serem conjugados na fase 2.

1. CYP1A1 (Citocromo P450 1A1)

O gene CYP1A1 codifica uma enzima do sistema CYP450, envolvida no metabolismo de xenobióticos (substâncias estranhas ao corpo) e metais pesados. Atua na oxidação de substâncias lipofílicas, tornando-as mais reativas para que possam ser processadas na fase 2.

2. CYP2E1 (Citocromo P450 2E1)

O gene CYP2E1 codifica enzima que desempenha papel crucial no metabolismo de metais pesados e toxinas ambientais. Está envolvido na metabolização de compostos como o álcool, mas também influencia a detoxificação de mercúrio e tolueno.

3. CYP3A4 (Citocromo P450 3A4)

O gene CYP3A4 é uma das enzimas mais abundantes no fígado e está envolvido na metabolização de muitos compostos tóxicos, incluindo alguns metais pesados. Ajuda na oxidação de substâncias que serão posteriormente conjugadas na fase 2.

4. NADPH Quinona Redutase (NQO1)

O gene NQO1 codifica uma enzima que ajuda a reduzir compostos reativos durante a fase 1 da desintoxicação, protegendo o corpo de danos oxidativos que podem ocorrer durante o metabolismo de metais pesados.

Fase 2 - Fase de Conjugação (Fase de Eliminação)

Aqui, os metabólitos reativos produzidos na fase 1 são conjugados a grupos moleculares que tornam os compostos mais solúveis em água, facilitando sua excreção pela urina ou bile.

1. GST (Glutationa S-transferase)

O gene GST codifica uma família de enzimas, sendo as mais relevantes GSTM1, GSTT1, e GSTP1. Essas enzimas desempenham um papel essencial na conjugação de toxinas com glutationa (um antioxidante). A glutationa se liga a metais pesados, como mercúrio, arsênico e cádmio, tornando-os mais fáceis de serem excretados.

2. SULT (Sulfo Transferase)

  • O gene SULT codifica enzimas responsáveis pela sulfatação, um tipo de conjugação que permite a eliminação de metais pesados e outras toxinas.

  • As sulfotransferases ajudam a adicionar grupos sulfato a substâncias, tornando-as solúveis em água e permitindo sua excreção.

3. UGT (UDP-glucuronosiltransferase)

  • O gene UGT codifica enzimas responsáveis pela glucuronidação, um processo que adiciona o ácido glucurônico a substâncias lipofílicas, tornando-as hidrossolúveis e prontas para excreção.

  • Essas enzimas ajudam na detoxificação de metais pesados e outras toxinas, como produtos de degradação de hormônios.

4. MTP (Metalothioneína)

  • O gene MTP codifica a metalotioneína, uma proteína que se liga a metais pesados como cádmio, mercúrio e cobre, ajudando a armazená-los de forma segura no corpo até que possam ser eliminados.

  • A metalotioneína tem um papel essencial na proteção celular contra a toxicidade dos metais pesados.

5. ABCC (Proteínas ABC de Transporte)

  • Os genes da família ABCC (também conhecidos como MDRs, como ABCC1, ABCC2) codificam transportadores envolvidos na excreção de toxinas e metais pesados pelas células.

  • Essas proteínas ajudam a transportar substâncias conjugadas (como glutationa) para fora das células, facilitando sua eliminação.

Outros Genes Importantes para a Detoxificação de Metais Pesados

1. SOD (Superóxido Dismutase)

  • O gene SOD codifica enzimas antioxidantes que protegem as células contra os danos oxidativos causados pelo metabolismo de toxinas e metais pesados.

2. GCLC (Glutamato Cisteína Ligase Catalítica)

  • O gene GCLC participa da síntese de glutationa, um importante antioxidante envolvido tanto nas fases 1 quanto 2 da desintoxicação de metais pesados.

A detoxificação de metais pesados envolve uma rede complexa de genes e enzimas que atuam para metabolizar, transformar e eliminar esses compostos do corpo. Em resumo:

  • Fase 1 envolve genes como CYP450, NQO1 e outros que oxidam e modificam toxinas.

  • Fase 2 envolve GST, UGT, SULT, e outras enzimas que conjugam os produtos da fase 1 para facilitar sua excreção.

Genética, dieta e estilo de vida saudável desempenham papéis importantes na eficácia dessas vias de desintoxicação. A personalização do tratamento e da exposição a metais pesados pode ser baseada em fatores genéticos individuais.

Potencializando a genética

Potencializar a ação de genes envolvidos na desintoxicação de metais pesados é fundamental para melhorar a capacidade do corpo de lidar com toxinas e substâncias prejudiciais. Isso é especialmente relevante se você tiver polimorfismos genéticos que afetam o funcionamento dessas vias de detoxificação. Abaixo, discutirei formas de potencializar essas vias tanto para a fase 1 (modificação) quanto para a fase 2 (conjugação) da desintoxicação, além de como lidar com polimorfismos genéticos.

Fase 1 - Fase de Modificação (Metabolismo de Substâncias)

1. CYP450 (Citocromo P450)

O sistema CYP450 é responsável pela oxidação de muitas toxinas, incluindo metais pesados. Se você possui variantes genéticas desfavoráveis nos genes CYP1A1, CYP2E1, ou CYP3A4, o processo de detoxificação pode ser menos eficiente. Algumas formas de potencializar a ação do CYP450 incluem:

  • Dieta rica em antioxidantes: Alimentos ricos em vitamina C, vitamina E, selênio, zinco e polifenóis (presentes em frutas como maçãs, morangos, e chá verde) ajudam a reduzir os danos oxidativos durante o metabolismo das toxinas, facilitando a função das enzimas CYP450.

  • Compostos naturais que induzem o CYP450: Alguns compostos podem ajudar a aumentar a atividade das enzimas do CYP450, como o brócolis, couve e mostarda, que contêm compostos chamados indóis, conhecidos por aumentar a atividade de algumas enzimas do CYP450.

  • Exposição ao sol: A exposição à luz solar pode ativar certas enzimas CYP450 no fígado.

2. NQO1 (NADPH Quinona Redutase 1)

A enzima NQO1 ajuda a reduzir compostos reativos e a proteger as células de danos oxidativos. Polimorfismos em NQO1 podem levar a uma redução da atividade dessa enzima. Para potencializar o funcionamento do NQO1, considere:

  • Consumo de alimentos ricos em antioxidantes: Como frutas vermelhas, couve, abacate, e citrus. Eles ajudam a reduzir os danos oxidativos causados pelos metabólitos reativos.

  • Suplementação de Coenzima Q10: Este antioxidante pode ajudar a melhorar a função do NQO1.

  • Açafrão (curcumina): O composto ativo do açafrão, a curcumina, tem mostrado potencial para melhorar a atividade de NQO1.

Fase 2 - Fase de Conjugação (Fase de Eliminação)

1. GST (Glutationa S-transferase)

A glutationa S-transferase é uma das enzimas mais importantes da fase 2 de desintoxicação. Ela ajuda a conjugação de metais pesados com glutationa, tornando-os mais fáceis de excretar. Polimorfismos nos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 podem afetar a função da GST.

O aumento da produção de glutationa envolve:

  • Alimentos ricos em enxofre como alho, cebola, brócolis, e couve ajudam na síntese de glutationa, essencial para a ação das GST.

  • Suplementação de N-acetilcisteína (NAC): precursor direto da glutationa e pode aumentar seus níveis no corpo, potencializando a detoxificação.

  • Vitamina C: ajuda a regenerar a glutationa, promovendo uma desintoxicação mais eficiente.

  • Outros antioxidantes: além da vitamina C, considere vitamina E, selênio, zinco e manganês, pois ajudam a reduzir o estresse oxidativo e apoiar o funcionamento da glutationa.

2. UGT (UDP-glucuronosiltransferase)

As enzimas UGT fazem a glucuronidação, um processo que torna as substâncias mais solúveis em água, permitindo sua excreção. Polimorfismos genéticos podem afetar a eficiência desse processo. Para otimizar a função das UGTs:

  • Consumo de alimentos ricos em flavonoides: Como citrus, frutas vermelhas, e chá verde. Os flavonoides aumentam a atividade de UGT, melhorando a capacidade de conjugação e eliminação de toxinas.

  • Açafrão (Curcumina): A curcumina também tem mostrado efeitos benéficos sobre a atividade das UGTs.

  • Vitaminas B12 e B9: Esses nutrientes são importantes para a metilação e podem ajudar a melhorar a detoxificação.

3. SULT (Sulfo Transferase)

As sulfotransferases ajudam na conjugação de compostos com sulfato, facilitando sua eliminação. O gene SULT1A1, por exemplo, tem polimorfismos que podem afetar a eficiência da sulfatação. Para otimizar essa enzima:

  • Alimentos ricos em enxofre (como alho, cebola e couve) são benéficos, já que o enxofre é essencial para a sulfatação.

  • Suplementação de glicina: A glicina é um aminoácido que pode ajudar na sulfatação.

4. Metalotioneína (MTP)

A metalotioneína se liga a metais pesados como cádmio, mercúrio, e arsênico, ajudando na sua desintoxicação e armazenamento. Para potencializar a ação da metalotioneína:

  • Consumo de zinco e selênio: O zinco é um cofator essencial para a síntese de metalotioneína. Alimentos como castanhas, sementes e mariscos são fontes ricas de zinco.

  • Suplementação de selênio: O selênio é importante para a proteção contra os danos de metais pesados, especialmente o mercúrio.

5. Transportadores ABC (ABCC)

Os transportadores ABC ajudam a excretar substâncias conjugadas (como glutationa) para fora das células. Para otimizar sua função:

  • Compostos naturais como quercetina (encontrada em cebolas e maçãs) podem aumentar a função dos transportadores ABC.

  • Prática regular de exercícios físicos pode melhorar a atividade dos transportadores ABC.

Ações Gerais para Potencializar a Detoxificação

Além das abordagens específicas para cada fase, algumas estratégias gerais podem ajudar a melhorar a capacidade do corpo de se desintoxicar de metais pesados, especialmente em caso de polimorfismos:

  1. Alimentação saudável e balanceada: Priorizar uma dieta rica em antioxidantes, fibra e compostos bioativos que promovem a desintoxicação.

  2. Hidratação adequada: A ingestão de água limpa ajuda a eliminar toxinas através da urina e da transpiração.

  3. Exercícios físicos regulares: Aumentam a circulação e ajudam a eliminar toxinas através da transpiração e do sistema linfático.

  4. Suplementação: Caso indicado por um profissional de saúde, pode-se fazer uso de suplementos de NAC, vitamina C, vitamina E, zinco, selênio, e antioxidantes que aumentam as enzimas de detoxificação.

  5. Sauna: é mais que suar, é uma estratégia que melhora a função cardiovascular, ativa proteínas de choque térmico para reparo celular, reduz inflamação, alivia dor, melhora humor.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Energia, Reparo Celular e Longevidade: Bases Moleculares do Envelhecimento Saudável

O corpo precisa de energia. Por isso, comemos e respiramos. Contudo, o corpo precisa fazer reparo. E neste momento precisamos dormir e jejuar. A manutenção da estabilidade genômica por meio de mecanismos de reparo do DNA é crucial para o funcionamento celular adequado e está implicada no envelhecimento e na longevidade humana [1] [2] [3].

Intervenções dietéticas, como restrição calórica (RC), jejum intermitente (JI) e dietas específicas, como a mediterrânea e a cetogênica, promovem o envelhecimento saudável modulando vias moleculares envolvidas no reparo celular, na inflamação e na regulação metabólica [4] [5].

Genes e vias específicas, incluindo sirtuínas (por exemplo, SIRT1), insulina/IGF-1, sinalização mTOR e fatores de transcrição FOXO, desempenham papéis significativos na regulação da expectativa de vida e da saúde em diversas espécies, incluindo humanos [6] [7] [8] [9].

Reparo do DNA e Estabilidade Genômica

O reparo do DNA é um mecanismo evolutivamente conservado, essencial para restaurar a homeostase genética, com evidências crescentes que o relacionam ao envelhecimento e à longevidade [1]. Defeitos congênitos no reparo do DNA podem levar a síndromes de envelhecimento precoce e aumento da suscetibilidade ao câncer, enquanto as lesões no DNA se acumulam com a idade, comprometendo a função celular e aumentando o risco de câncer [2].

O direcionamento dos mecanismos de resposta a danos no DNA (DDR) e o aprimoramento das capacidades de reparo do DNA são estratégias emergentes para mitigar fenótipos associados à idade, reduzir o risco de câncer e prolongar a vida saudável, mantendo a integridade e a funcionalidade dos genomas somáticos [2] [3]. Estudos com organismos aquáticos longevos também destacam a ligação entre estresse oxidativo, vias de reparo do DNA e longevidade [10].

Vias Moleculares e Intervenções Dietéticas

A família das sirtuínas, particularmente a SIRT1, é um grupo altamente conservado de histona desacetilases ligado ao metabolismo, à resposta ao estresse, ao reparo de danos no DNA e à inflamação. A superexpressão de homólogos da SIRT1 prolonga a vida em vários modelos animais, e sua atividade está associada ao prolongamento da vida devido à restrição calórica [6]. O resveratrol, um composto ativador de sirtuínas, tem sido estudado pelos seus efeitos na saúde e na longevidade [6].

Intervenções dietéticas como a restrição calórica (RC) e o jejum intermitente (JI) têm demonstrado efeitos promissores na promoção do envelhecimento saudável e no prolongamento da vida em organismos modelo e em humanos. Essas intervenções modulam vias-chave como mTORC1, AMPK e sinalização da insulina, e podem induzir um estado semelhante ao da restrição alimentar, como observado com o cinamaldeído em C. elegans [4] [5] [11] [12]. A geleia real e seus componentes também promovem o envelhecimento saudável e a longevidade em várias espécies, através da regulação negativa de fatores de crescimento semelhantes à insulina e da ação da rapamicina, entre outros mecanismos [9].

Outros mecanismos que influenciam a longevidade incluem a regulação da excitação neural pelo fator de transcrição REST, que é superexpresso em humanos longevos e reprime genes relacionados à excitação [13]. Além disso, a hipóxia, ou disponibilidade reduzida de oxigênio, tem sido explorada como uma possível intervenção para promover o envelhecimento saudável e prolongar a vida, convergindo em efetores a jusante como o FOXO [14].

A longevidade não é resultado exclusivo da produção de energia, mas do equilíbrio entre períodos de abundância e de reparo. Dormir, jejuar e modular a ingestão energética ativam programas moleculares voltados à manutenção da estabilidade genômica, ao reparo do DNA e à preservação da função celular.

Evidências acumuladas demonstram que intervenções dietéticas e metabólicas regulam vias centrais como sirtuínas, mTOR, AMPK, insulina/IGF-1 e FOXO, integrando metabolismo, resposta ao estresse e integridade genômica. Quando esse eixo é favorecido, ocorre redução da inflamação, melhora da eficiência do reparo molecular e desaceleração dos processos associados ao envelhecimento.

Assim, o envelhecimento saudável emerge não como um evento passivo, mas como um processo biologicamente regulável, profundamente dependente de escolhas metabólicas que favorecem o reparo, a adaptação e a preservação do genoma ao longo da vida.

Explore, na plataforma T21, os mecanismos científicos que conectam metabolismo, sono, jejum, reparo do DNA e estabilidade genômica. Aprofunde-se nas vias moleculares que regulam inflamação, adaptação celular e longevidade, com base em evidências atuais. Acesse https://t21.video

Referências

1) Y Tang et al. Decoding DNA repair regulation across human lifespan variability. Ageing research reviews (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40651558/

2) D Toiber et al. Targeting Genome Stability to Mitigate Human Aging and Disease. Annual review of pathology (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/41086257/

3) A Bujarrabal-Dueso et al. Targeting DNA damage in ageing: towards supercharging DNA repair. Nature reviews. Drug discovery (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40506534/

4) R Surugiu et al. Molecular Mechanisms of Healthy Aging: The Role of Caloric Restriction, Intermittent Fasting, Mediterranean Diet, and Ketogenic Diet-A Scoping Review. Nutrients (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39275194/

5) DS Hwangbo et al. Mechanisms of Lifespan Regulation by Calorie Restriction and Intermittent Fasting in Model Organisms. Nutrients (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32344591/

6) B Rogina et al. SIRT1, resveratrol and aging. Frontiers in genetics (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38784035/

7) PK Ankrah et al. Harnessing Genetics to Extend Lifespan and Healthspan: Current Progress and Future Directions. Cureus (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38571872/

8) G Tombline et al. Proteomics of Long-Lived Mammals. Proteomics (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31737995/

9) H Kunugi et al. Royal Jelly and Its Components Promote Healthy Aging and Longevity: From Animal Models to Humans. International journal of molecular sciences (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31547049/

10) A Wojtczyk-Miaskowska et al. DNA damage and oxidative stress in long-lived aquatic organisms. DNA repair (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30031322/

11) Y Guo et al. Dietary cinnamon promotes longevity and extends healthspan via mTORC1 and autophagy signaling. Aging cell (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39760475/

12) R de Cabo et al. The search for antiaging interventions: from elixirs to fasting regimens. Cell (2014). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24949965/

13) JM Zullo et al. Regulation of lifespan by neural excitation and REST. Nature (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31619788/

14) A Nisar et al. The Role of Hypoxia in Longevity. Aging and disease (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39965249/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

SAÚDE DE PRECISÃO E TESTES PREDITORES DA LONGEVIDADE

Marcadores de longevidade são medidas biológicas que ajudam a estimar não apenas quanto tempo uma pessoa pode viver, mas principalmente como ela está envelhecendo. Diferente da idade cronológica, esses marcadores refletem a idade biológica, ou seja, o acúmulo real de dano celular, inflamação, disfunção metabólica e perda de reserva funcional ao longo da vida.

A longevidade não é determinada por um único fator. Ela emerge da interação entre genética, metabolismo, inflamação, capacidade física e ambiente. Por isso, marcadores de longevidade abrangem diferentes níveis biológicos, desde variantes genéticas associadas à sobrevida, passando por perfis metabolômicos e epigenéticos, até exames sanguíneos e testes funcionais simples.

Esses marcadores permitem identificar aceleração do envelhecimento anos antes do surgimento de doenças clínicas. Em vez de esperar o diagnóstico de diabetes, doença cardiovascular ou neurodegenerativa, é possível detectar precocemente perda de eficiência metabólica, inflamação crônica de baixo grau e redução da capacidade energética.

Uma nova medida metabolômica de envelhecimento, MetaboAgeMort, desenvolvida usando perfis metabolômicos de 239.291 participantes do UK Biobank, prevê significativamente a mortalidade por todas as causas em 10 anos e várias doenças incidente. Esta medida é influenciada por 99 fatores modificáveis, incluindo função pulmonar, composição corporal, nível socioeconômico e dieta, e está associada a 99 loci de risco genômico [1].

Existem também escores de risco multiômicos, que combinam genética, metabolômica e epigenética para marcadores de inflamação e que geralmente superaram os escores de ômica única na previsão da mortalidade por todas as causas, com alguns escores apresentando uma Razão de Risco (RR) de até 2,20 [2].

Variantes genéticas específicas, como APOE2 e FOXO3a, estão associadas à longevidade excepcional, enquanto o SNP rs6543176 no gene SLC9A2 está ligado à longevidade extrema e ao risco reduzido de hipertensão [3] [4].

Predictores Metabolômicos da Longevidade

Estudos em famílias chinesas Han, comparando nonagenários/centenários com seus filhos, revelaram uma extensa remodelação metabolômica com o avanço da idade, incluindo associações entre FADS1/2 e ácido araquidônico, PTPA e succinilcarnitina, e FLVCR1 e colina [5]. Em um estudo com centenários e nonagenários em Guangxi, na China, níveis plasmáticos mais elevados de citrato, tirosina, colina, carnitina e valina, e níveis mais baixos de VLDL, lactato, alanina, NAG, TMAO, α-glicose, β-glicose e lipídios insaturados foram identificados como metabólitos marcadores de longevidade, associados a uma maior ingestão de fibras alimentares e menor ingestão de energia/gordura [6].

A análise de 408 metabólitos plasmáticos no Estudo Familiar de Longa Vida identificou 308 metabólitos associados à idade, 258 com alterações ao longo do tempo, 230 associados à longevidade extrema e 152 associados ao risco de mortalidade. Os ácidos graxos essenciais foram destacados como conectores críticos entre os lipídios e outros processos metabólicos [7]. O metabolismo lipídico, incluindo perfis específicos de esfingolipídios e fosfolipídios, também demonstrou sofrer alterações com a idade e está associado à longevidade humana excepcional [8].

Preditores Genéticos e Multiômicos

Variantes genéticas associadas ao nível de escolaridade podem predizer a longevidade; um aumento de 1 desvio padrão (DP) na pontuação poligênica de escolaridade foi associado a um risco de mortalidade ~2,7% menor para mães e ~2,4% menor para pais em uma meta-análise de três coortes [9]. Os genótipos APOE2 e FOXO3a são consistentemente confirmados como genótipos funcionais enriquecidos em centenários e associados à longevidade excepcional [3].

Um estudo de associação genômica ampla utilizando sequenciamento de genoma completo identificou o SNP rs6543176 no gene SLC9A2 como uma nova variante associada à longevidade, também ligada à redução do risco de hipertensão e a níveis mais elevados de serina. A associação deste SNP com o risco de câncer foi replicada no UK Biobank e no FinnGen [4].

As pontuações de risco multiômicas, que integram genética (pontuação de risco poligênico [PRS]), metabolômica (pontuação de risco metabolômico [MRS]) e epigenética (pontuação de risco epigenético [ERS]) para marcadores inflamatórios (proteína C-reativa, interleucina 6, fator de necrose tumoral alfa), geralmente superaram as pontuações monoômicas na predição da mortalidade por todas as causas no Estudo Longitudinal Canadense sobre Envelhecimento. Por exemplo, uma MRS-ERS de IL-6 com desvio padrão (1-DP) apresentou uma razão de risco (HR) de 2,20 para mortalidade por todas as causas [2].

Outros testes mais simples

Também conseguimos avaliar marcadores de capacidade física e sanguíneos que dão pistas sobre a velocidade de envelhecimento, mesmo antes de surgirem sintomas. Alguns exemplos:

  • ApoB e PCR ultra-sensível revelam o nível real de inflamação e dano vascular.

  • VO₂ Máx mostra o quanto seu corpo consegue produzir energia, e esse número sozinho já é um dos maiores preditores de mortalidade.

  • A insulina em jejum denuncia cedo a queda da eficiência metabólica.

  • A GGT expõe um estresse oxidativo silencioso que encurta a vida útil das suas células.

Na prática, marcadores de longevidade transformam o envelhecimento em algo mensurável. Eles substituem achismos por dados objetivos, orientam estratégias personalizadas de prevenção e ajudam a monitorar se intervenções em dieta, atividade física e estilo de vida estão realmente desacelerando o envelhecimento biológico.

Referências

1) X Jia et al. A Novel Metabolomic Aging Clock Predicting Health Outcomes and Its Genetic and Modifiable Factors. Advanced science (Weinheim, Baden-Wurttemberg, Germany) (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39331845/

2) A Yaskolka Meir et al. Cross-omics risk scores of inflammation markers are associated with all-cause mortality: The Canadian Longitudinal Study on Aging. American journal of human genetics (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40633542/

3) S Milman et al. Discovering Biological Mechanisms of Exceptional Human Health Span and Life Span. Cold Spring Harbor perspectives in medicine (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37137499/

4) A Gurinovich et al. SNP rs6543176 is associated with extreme human longevity but increased risk for cancer. GeroScience (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39751714/

5) Q Xu et al. Metagenomic and metabolomic remodeling in nonagenarians and centenarians and its association with genetic and socioeconomic factors. Nature aging (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37118062/

6) H Li et al. 1H NMR-Based Metabolomics Reveals the Intrinsic Interaction of Age, Plasma Signature Metabolites, and Nutrient Intake in the Longevity Population in Guangxi, China. Nutrients (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35745269/

7) P Sebastiani et al. Metabolite signatures of chronological age, aging, survival, and longevity. Cell reports (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39504246/

8) AA Johnson et al. The role of lipid metabolism in aging, lifespan regulation, and age-related disease. Aging cell (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31560163/

9) RE Marioni et al. Genetic variants linked to education predict longevity. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27799538/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/