A encefalite autoimune (EA) é uma condição rara, caracterizada por uma inflamação no cérebro causada por uma resposta imune do corpo que ataca suas próprias células, levando a uma série de sintomas neurológicos.
A presença de anticorpos específicos, como aqueles contra a proteína-2 associada à contactina (CASPR2), foi associada à encefalite autoimune. Títulos mais altos de anticorpos e achados de ressonância magnética podem auxiliar no diagnóstico e podem se correlacionar com a probabilidade de regressão dos sintomas após o tratamento [1].
Um estudo envolvendo crianças com encefalite autoimune descobriu que as características da função imune, particularmente a proporção CD4/CD8, se correlacionavam com o prognóstico. Os fatores de prognóstico ruim incluíam idade jovem, distúrbio de consciência e função imune anormal durante a remissão, indicando que as respostas imunes podem influenciar os resultados da regressão e recuperação da doença [2].
Encefalite autoimune no autismo
A relação entre encefalite autoimune (EA) e transtorno do espectro autista (TEA) é uma área emergente de pesquisa. Alguns estudos sugerem que a EA pode atuar como um agente causador do TEA ou produzir sintomas que se assemelham ao autismo. Isso é particularmente observado em casos em que o autismo se apresenta com padrões de regressão ou início atípico, indicando que a EA deve ser considerado em diagnósticos diferenciais [3].
A presença de autoanticorpos anti-receptor de N-metil-D-aspartato (anti-NMDAR), pode levar a sintomas associados ao autismo. Esses autoanticorpos afetam a neurotransmissão do glutamato, que é crucial para a função cerebral normal [4].
A EA pode se manifestar com sintomas cognitivos, psiquiátricos e neurológicos, que podem se sobrepor a traços semelhantes ao autismo. Essa sobreposição pode complicar o diagnóstico, tornando essencial investigar condições autoimunes em pacientes diagnosticados com TEA, especialmente quando os sintomas psiquiátricos são proeminentes [5].
Alterações genéticas, doenças autoimunes, infecções virais, tumor cerebral, desregulação do sistema imune são as principais causas das doenças autoimunes. No autismo, a genética alterada parece gerar maior sensibilidade. E quando as barreiras estão alteradas (especialmente intestinal e hemato-encefálica) problemas podem surgir com maior frequência. Me perguntam muito se alergias alimentares podem ser gatilhos para a encefalite.
Alergias alimentares não são uma causa direta de encefalite autoimune. No entanto, existem algumas considerações importantes sobre como as reações alérgicas podem afetar o sistema imunológico e, em casos raros, levar a alterações encefálicas.
As alergias alimentares envolvem uma resposta do sistema imunológico a certos alimentos, geralmente proteínas presentes em alimentos como amendoim, leite, ovos, soja, etc. Em casos de reações alérgicas muito intensas, pode haver alterações no sistema nervoso, como convulsões ou alterações de consciência, mas essas manifestações são muito mais raras. Alguns artigos falam de “autismo adquirido” para a hipótese de alterações comportamentais geradas pela encefalite, especialmente quando as mudanças são rápidas e há regressão [6].
As alergias alimentares envolvem uma resposta do sistema imunológico a certos alimentos, geralmente proteínas presentes em alimentos como amendoim, leite, ovos, soja, etc. Em algumas pessoas, essa resposta pode ser bastante severa, levando a uma reação alérgica grave conhecida como anafilaxia.
Certos alimentos e aditivos alimentares podem, em algumas pessoas, contribuir para um estado inflamatório geral no corpo, o que pode potencialmente afetar o cérebro. Em condições como a encefalopatia causada por inflamação sistêmica ou por distúrbios metabólicos, pode haver efeitos neurológicos, mas não se trata de uma encefalite autoimune clássica.
Um ponto importante é que estudos mostram a correlação entre alergias intestinais e alterações na barreira intestinal [7], assim como na barreira hematoencefálica (BHE). Além disso, algumas evidências apontam que pessoas com alergias alimentares podem ter um risco maior de distúrbios neurológicos, como problemas cognitivos ou comportamentais, embora a relação causal ainda não tenha sido completamente estabelecida [8].
O comprometimento da BHE pode permitir que patógenos e células inflamatórias entrem no sistema nervoso central (SNC) gerando neuroinflamação. Estudos mostram a ativação da micróglia, contribuindo para a severidade dos sintomas, apesar de não podermos dizer que seja uma encefalite autoimune. Micróglia são células do SNC que desempenham um papel fundamental na defesa do cérebro e da medula. Existem evidências de que a microglia está ativada no TEA [9].
A detecção precoce da encefalite autoimune é crítica, pois o tratamento oportuno pode evitar consequências de longo prazo e diagnósticos incorretos. Tratamentos como terapia imunológica podem melhorar os resultados para aqueles com sintomas relacionados à autoimunidade. Outras estratégias precisam ser considerados em outras causas não autoimunes das encefalite.