O envelhecimento pode ser definido como o conjunto de mudanças graduais e progressivas em um organismo que leva a um risco aumentado de fraqueza, doença e morte. Esse processo pode ocorrer no nível celular e orgânico, bem como em todo o organismo de qualquer ser vivo. Durante o envelhecimento, há uma diminuição nas funções biológicas e na capacidade de adaptação ao estresse metabólico (Giménez et al, 2022).
Os efeitos gerais do envelhecimento incluem disfunção mitocondrial, celular e orgânica, comprometimento imunológico ou inflamação, estresse oxidativo, alterações cognitivas e cardiovasculares, entre outros. Portanto, uma das principais consequências prejudiciais do envelhecimento é o desenvolvimento e a progressão de múltiplas doenças relacionadas a esses processos, especialmente nos níveis cardiovascular e do sistema nervoso central. Tanto as patologias cardiovasculares quanto as neurodegenerativas são altamente incapacitantes e, em muitos casos, letais.
Alterações cardiovasculares e neurodegenerativas associadas ao envelhecimento (Giménez et al, 2022).
Nesse contexto, usamos estratégias de estilo de vida (sono adequado, atividade física, dieta, suplementação, gestão de estresse) para retardar a deterioração orgânica e as doenças. A melatonina vem sendo estudada neste sentido. É um composto endógeno sintetizado naturalmente não apenas pela glândula pineal, mas também por muitos tipos de células e pode ter um papel fundamental na modulação de múltiplos mecanismos associados ao envelhecimento.
O que é a melatonina?
Estrutura da melatonina
A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, principalmente à noite, e desempenha um papel central na regulação do ciclo sono-vigília. Seu uso clínico tem sido amplamente estudado em diversas condições. Aqui está uma visão geral dos 6 principais usos e achados sobre a melatonina:
1. Regulação do Sono e Insônia
Eficácia em insônia primária:
Estudos demonstram que a melatonina pode reduzir o tempo necessário para adormecer (latência do sono) e melhorar a qualidade do sono, especialmente em indivíduos com distúrbios circadianos. Pode reduzir o tempo para adormecer em 7 minutos, em média, e também aumenta a eficiência do sono.
Transtorno do ritmo circadiano:
Benefícios para pessoas com jet lag e trabalhadores em turnos noturnos, ajustando o ciclo sono-vigília.
Doses entre 0,5 a 5 mg são comumente utilizadas para sincronizar os ritmos circadianos.
2. Uso em Crianças com Transtornos do Neurodesenvolvimento
Estudos mostram que a melatonina é eficaz e segura para melhorar o sono em crianças com:
Autismo
Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Paralisia cerebral.
Um estudo controlado (Rossignol & Frye, 2011) destaca melhorias na latência do sono e duração do sono, com efeitos colaterais mínimos.
3. Saúde Metabólica
Obesidade e resistência à insulina:
A melatonina demonstrou efeitos na regulação do metabolismo da glicose e no controle de peso em modelos animais e humanos.
Um estudo clínico (Cipolla-Neto et al., 2014) sugere que a melatonina pode melhorar a sensibilidade à insulina, principalmente em indivíduos com disfunção do ritmo circadiano.
Efeito antioxidante e anti-inflamatório:
A melatonina é um potente antioxidante que protege contra danos causados por radicais livres.
Estudos mostram benefícios em condições como síndrome metabólica e doenças cardiovasculares.
Propriedades antioxidantes da melatonina (Monteiro et al., 2024)
4. Distúrbios Neuropsiquiátricos
Depressão e Transtornos Afetivos Sazonais:
A melatonina ajuda a regular ritmos circadianos desregulados associados a transtornos depressivos.
Doença de Alzheimer:
Pesquisas indicam que a melatonina pode atrasar o declínio cognitivo, proteger contra danos oxidativos e melhorar o sono em pacientes com Alzheimer (Zhang et al., 2025).
Efeito protetor da melatonina no cérebro (Zhang et al., 2025).
5. Melatonina em Câncer
Estudos sugerem que a melatonina pode ter propriedades anticancerígenas:
Redução de proliferação tumoral: Atua como modulador imune e inibe fatores de crescimento de células cancerígenas (Li et al, 2017).
Uma revisão (Seely et al., 2012) mostrou que a melatonina, combinada com terapia convencional, pode melhorar a sobrevida de pacientes com câncer, particularmente câncer de mama e próstata.
6. Saúde Reprodutiva
A melatonina influencia a fertilidade:
Mulheres: Estudos mostram melhora na qualidade dos óvulos em tratamentos de fertilização in vitro - FIV (Espino et al., 2019).
Homens: Melhora na qualidade do esperma devido às suas propriedades antioxidantes (Luboshitzky et al., 2022)
A melatonina costuma ser bem tolerada, com efeitos colaterais mínimos e leves, mas que podem incluir: sonolência diurna, tontura, cefaleia, sonhos mais vívidos. O cuidado maior é no caso de crianças. Um pediatra deve ser consultado para evitar toxicidade (overdose).
Uso de melatonina por adultos e idosos
Lembre que a produção natural de melatonina cai com a idade e que sua produção é dependente de muitos nutrientes. Marque aqui sua consulta de nutrição online para conversarmos sobre a modulação individualizada para seu caso.
Legislação sobre o uso da melatonina
1. Brasil
No Brasil, a melatonina é regulamentada pela ANVISA e está disponível principalmente em farmácias de manipulação e como suplemento na dose de 0,21 mg (uso sem prescrição). À estas fórmulas também podem ser adicionados ativos como taurina, passiflora, glicina magnésio, inositol, que potencializam o efeito relaxante, como neste produto.
Doses mais altas podem ser prescritas por médicos que usualmente indicam concentrações que variam de 0,5 mg a 10 mg ao dia, em cápsulas, comprimidos sublinguais, gomas mastigáveis ou sprays.
2. Europa
A regulamentação da melatonina varia entre os países europeus, sendo classificada como medicamento em alguns e suplemento alimentar em outros.
Mas, em geral, a melatonina é considerada suplemento em doses de até 1 mg. Em países como Alemanha, França, Irlanda e Espanha, melatonina pode ser manipulada em doses mais altas, mediante receita médica. São comuns prescrições com 1 a 5 mg de melatonina ou adição de 5HTP ou ervas com propriedades relaxantes.
3. Estados Unidos
Nos EUA, a melatonina é amplamente disponível como suplemento alimentar e não exige prescrição. Farmácias especializadas até podem preparar melatonina, mas o mercado é amplamente dominado pelos produtos prontos e marcas como Natrol, Now Foods, Nature's Bounty, Olly.