Os ritmos circadianos são fundamentais para a saúde humana, regulando o sono, o metabolismo, a cognição e o humor. A desregulação desses ritmos biológicos tem sido cada vez mais reconhecida como consequência e, possivelmente, como fator contribuinte para doenças neurodegenerativas como Doença de Alzheimer (DA), Doença de Parkinson (DP), Doença de Huntington (DH) e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Compreender essas conexões pode abrir caminho para novas estratégias de diagnóstico precoce, manejo dos sintomas e até mesmo intervenção terapêutica.
1. O Papel dos Ritmos Circadianos na Saúde do Cérebro
O núcleo supraquiasmático (NSQ), localizado no hipotálamo, atua como o "relógio mestre" do corpo, sincronizando os relógios periféricos dos órgãos e tecidos. Ele regula:
Ciclo sono-vigília (através da melatonina e do cortisol);
Função cognitiva (atenção, memória, função executiva);
Equilíbrio dos neurotransmissores (dopamina, serotonina, acetilcolina);
Reparação celular e desintoxicação (incluindo a eliminação do β-amiloide durante o sono profundo).
Quando a regulação circadiana é prejudicada, essas funções sofrem impacto, potencialmente acelerando a neurodegeneração.
2. Disfunção Circadiana nas Doenças Neurodegenerativas
A. Doença de Alzheimer (DA)
Principais disfunções:
Ciclo sono-vigília fragmentado (sonolência diurna excessiva, agitação noturna);
Redução da produção de melatonina;
Comprometimento na eliminação de β-amiloide e tau, proteínas associadas à progressão da doença.
Consequência: A desregulação circadiana piora o declínio cognitivo e pode acelerar a progressão da doença.
B. Doença de Parkinson (DP)
Principais disfunções:
A deficiência de dopamina afeta o NSQ, levando a sono fragmentado, sonolência diurna e distúrbios do sono REM;
Flutuações motoras estão alinhadas com alterações no ritmo circadiano.
Consequência: O desalinhamento circadiano pode agravar sintomas como tremores, bradicinesia e depressão.
C. Doença de Huntington (DH)
Principais disfunções:
A degeneração do NSQ leva à perda do ritmo de secreção de melatonina;
Distúrbios graves do sono pioram os sintomas motores e cognitivos.
Consequência: A desregulação circadiana acelera a progressão da neurodegeneração.
D. Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)
Principais disfunções:
Fragmentação do sono e redução do sono REM;
Alterações no ritmo circadiano impactam metabolismo e inflamação, fatores ligados à progressão da doença.
Consequência: A desregulação circadiana pode exacerbar a perda de neurônios motores.
3. Mecanismos que Ligam a Disfunção Circadiana à Neurodegeneração
A. Comprometimento do Sistema Glinfático
O sistema glinfático remove resíduos neurotóxicos (como o β-amiloide) principalmente durante o sono profundo.
A desregulação circadiana reduz sua eficiência, promovendo o acúmulo de proteínas tóxicas.
B. Disfunção Mitocondrial e Estresse Oxidativo
O desalinhamento circadiano afeta a produção de energia celular e aumenta o dano oxidativo nos neurônios.
Isso acelera a morte neuronal nas doenças neurodegenerativas.
C. Neuroinflamação e Disfunção Imune
A desregulação circadiana leva a um estado pró-inflamatório crônico, agravando a neurodegeneração.
A ativação da microglia (células imunes do cérebro) depende do ritmo circadiano, e seu funcionamento alterado pode comprometer a proteção neural.
4. Abordagens Terapêuticas Baseadas no Ritmo Circadiano
A. Terapia com Luz
Luz azul (de telas, LED, dispositivos eletrônicos à noite) inibe a produção de melatonina, atrasando o relógio biológico e prejudicando o sono. Luz azul (de telas, LED, dispositivos eletrônicos à noite) inibe a produção de melatonina, atrasando o relógio biológico e prejudicando o sono. A exposição à luz brilhante pela manhã pode ajudar a restaurar ritmos circadianos em pacientes com DA e DP. Isso auxilia na regulação da produção de melatonina e melhora a qualidade do sono.
B. Cronoterapia (Administração Temporal de Medicamentos)
Ajustar a administração de medicamentos para coincidir com os ritmos biológicos naturais pode melhorar sua eficácia e reduzir efeitos colaterais.
Exemplo: Otimização do horário da levodopa na DP para melhorar a disponibilidade de dopamina.
C. Melatonina e Regulação do Sono
A suplementação de melatonina pode melhorar a qualidade do sono na DA e DP. A Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I) pode ajudar a restaurar padrões normais de sono.
D. Modificações no Estilo de Vida
Manter horários regulares de sono e vigília fortalece os ritmos circadianos.
Atividade física pela manhã para reforçar os sinais circadianos naturais.
Alimentação com horário controlado (jejum intermitente) para sincronizar o metabolismo ao relógio biológico. Parar de comer pelas 20h e voltar a alimentação 12h a 16h depois é importante. Muito indicado para pacientes obesos. Quem fica com a luz acesa até tarde (celular, TV, computador) sente mais vontade de consumir alimentos calóricos neste horário. Já quem come cedo tende a optar por alimentos mais saudáveis.
Isso é muito importante. a exposição à luz noturna aumenta or risco de sobrepeso em 13% e o risco de obesidade em 22% (Lai et al., 2020). em geral, pessoas matutinas precisam consumir 75% das calorias até meio dia, pessoas intermediárias 65% das calorias até meio dia e pessoas vespertinas e noturnas 60% das calorias até meio dia (Maukonen et al., 2019, Montarulli et al., 2021).
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