Comunicação em Saúde

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A comunicação humana é essencial para o intercâmbio de informações de saúde. A comunicação pode acontecer em três níveis básicos:

  • intrapessoal: corresponde ao diálogo interior onde debatemos e refletimos acerca de diferentes questões, dúvidas, possibilidades de escolhas (fumar ou não fumar? consumir álcool ou não? lanchar uma maçã ou uma fatia de bolo, etc).

  • interpessoal: promove a troca de informação entre duas ou mais pessoas. Por exemplo, entre o nutricionista e seu cliente, entre o médico e seu paciente, entre a professora e seus alunos. Para que seja eficaz as pessoas precisam desenvolver habilidades e atitudes como respeito, escuta ativa, aceitação, empatia. Profissionais de saúde devem utilizar a comunicação de forma eficaz, minimizando erros de diagnóstico e potencializando os efeitos das ações terapêuticas sugeridas.

  • social: interação que ocorre num contexto social quer seja interpessoal, intergrupal ou de comunicação pública. Pode ser feita por meios de comunicação de massa, como TV, rádio, internet, jornais, revistas, cinema etc.

A comunicação adequada em saúde possibilita que as pessoas assimilem mais informações e que modifiquem seus comportamentos em benefício da própria saúde ou de seus familiares. Porém, nem sempre a comunicação é eficaz.

Itens que interferem na eficácia da comunicação

Relacionados ao momento em que ocorre a interação

  • Escassez de tempo - profissionais de saúde sobrecarregados e que atendem grande número de pacientes por turno;

  • Situação de enfermidade do doente. Uma pessoa saudável e sem dores pode compreender melhor do que pacientes em situação precária de saúde.

  • Primeiro contato como profissional de saúde. Alguns pacientes demoram tempo para estabelecer uma relação de confiança com a equipe de saúde.

  • Cansaço. O paciente está sendo atendido de dia ou à noite. Está desperto ou sonolento?

  • Estado emocional da pessoa - para maior eficácia no processo de comunicação devemos evitar momentos em que o estado emocional do paciente esteja muito alterado (euforia, ansiedade etc).

  • Relevância da mensagem: a mensagem é pouco ou muito relevante para o momento?

Comportamento do profissional de saúde

  • Usa de linguagem técnica ou acessivel?

  • Subestima a capacidade do doente em compreender a própria doença?

  • Tem postura acessível ou de superioridade?

  • É afável ou frio?

  • É simpático?

  • Fornece feedback?

  • Ouve o que o paciente diz? Faz perguntas apropriadas?

  • Estimula, repete apresenta novidades e opções terapêuticas?

  • Estilo de comunicação (falar rápido, muito baixo etc);

  • Uso de palavras ambíguas.

  • Falta de disponibilidade.

Comportamento do paciente

  • Nível de escolaridade e alfabetização em saúde (literacia). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define literacia em saúde como o conjunto de “competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para ganharem acesso a compreenderem e a usarem informação de formas que promovam e mantenham boa saúde (WHO, 1998). Pacientes com maior literácia são mais capazes de tomar decisões em saúde fundamentadas, no decurso da vida.

  • Dificuldade de expressar sintomas.

  • Diferente nacionalidade, fala outra língua.

  • Dificuldade para expressar-se.

  • Estados ansiosos ou depressivos ou outras questões relacionadas à saúde mental.

  • Fatores psicolóticos (interesses, motivações, expectativas, crenças, valores, sentimentos).

  • Religião, cultura.

  • Resistência a nova informação/informação prévia/diagnóstico.

  • Ideias preconcebidas.

  • Significado atribuído à informação.

  • Motivação e interesse.

  • Credibilidade percebida.

  • Expectativas.

  • etc.

Fatores ambientais

  • Contexto (ruído, calor, frio);

  • Características físicas do local (conforto, cor, materiais);

  • Organização das atividades (privacidade, interrupções, tempo disponível)

Consequências dos problemas de comunicação:

  • Insatisfação dos usuários com a qualidade dos serviços e cuidados prestados;

  • Erros de avaliação/diagnóstico;

  • Baixa adesão ao tratamento;

  • Baixa procura por cuidados.

O que estudam os especialistas em comunicação em saúde?

A comunicação em saúde é uma área de estudos interdisciplinar e multiprofissional que estuda estratégias de comunicação para informar e influenciar as decisões das pessoas e das comunidades, com base em conhecimentos, atitudes e práticas, no sentido de promover a saúde das pessoas e da população.

Engloba três atores principais:

  • Organizações: registram a atividade clínica, informações epidemiológicas, tendências, indicadores, cuidados.

  • Profissionais de saúde: identificam as necessidades das pessoas e propõem intervenções, comunicam-se com equipes, instituições, usuários.

  • Pacientes/usuários: partilham problemas, buscam por respostas, obtém informações.

Quanto mais otimizada for a comunicação entre estes três atores maiores serão os ganhos em saúde.  Existem evidências de que uma boa comunicação aumenta a capacidade de adaptação das pessoas, que passam a tomar melhores decisões no sentido de prevenir doenças e recuperar a saúde. O impacto na saúde de cada indivíduo pode também ter influência em suas relações. Por exemplo, uma pessoa entusiasta da dieta saudável pode influenciar seu grupo mais próximo a também se alimentar melhor.

Dentre os diversos papeis que a comunicação em saúde pode assumir, destacam-se:

  1. Promover o conhecimento e a consciência sobre determinada situação, proplema ou proposta de intervenção;

  2. Conscientizar para a necessidade de mudança de atitudes e comportamentos;

  3. Mostrar os benefícios das mudanças de comportamento;

  4. Promover uma procura adequada dos serviços de saúde;

  5. Promover a literacia em saúde;

  6. Esclarecer mitos e equívocos;

  7. Possibilitar o funcionamento das organizações de saúde;

  8. Conhecer os problemas de saúde de indivíduos, grupos ou população;

  9. Facilitar a tomada de decisões em matéria de saúde;

  10. Facilitar a comunicação intra e interprofissional e intra e interinstitucional;

  11. Informar os decisores políticos sobre as necessidades, a efetividade das intervenções, os ganhos em saúde etc.

  12. Documentar informações sobra saúde/doença;

  13. Facilitar a reinvidicação dos direitos dos usuários, profissionais e instituições.

Livro indicado: Sequeira, Carlos (Coord.). Comunicação Clínica e Relação de Ajuda. Lidel, 2016, 343p.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/